quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Encontro
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Caminho
já sabem sozinhos os caminhos de casa.
Então, não se preocupe se eu demorar para aparecer.
Se eu ainda não cheguei, é porque ainda não é a hora.
A vida pulsa lá fora e está lá o que eu quero saber.
Deixem meu pés me levarem adiante,
por calçadas, estradas e camas de amantes que não saberão me entender.
Porque eu quero a vida como quem tem desejo do mundo,
eu quero ir muito mais fundo,
não posso mais me prender.
Proverbial
Frase de um amigo que, por razões óbvias, não será identificado neste post.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Dissecando o Bom Canalha - V
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Camicase
Não acredito mais em nada não
Nem tente me desapontar
Vai gastar sua munição
É chutar cachorro morto
Guarde sua artilharia para outra ocasião
Meu corpo perfurado no tiroteio da vida
Passa incólume no meio do canhoneio
Não me assusto com as explosões
E sorrio para as minas estourando aos meus pés
Trago meu coração em minhas mãos
E vejo quando ele bate mais fraco.
Então, prendo a respiração e penso comigo:
Não te assustes, é só mais um tiro.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Nos dias de solidão
terça-feira, 13 de julho de 2010
Não me interesso pelas leis da física
Não me interesso pelas leis da física.
Ainda que aprecie a luz e o som,
não quero desfazer com cálculos e teorias esses mistérios que
me acompanham desde a infância.
Amigos discretos, sempre de braços abertos
para o meu deleite e para a minha
distração.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Saramago se foi
José Saramago morreu na manhã de ontem, aos 87 anos. A primeira obra dele que li foi o Evangelho segundo Jesus Cristo. Fiquei chapado. Depois foi o Ensaio da Cegueira. Outra porrada na moleira - a rima não é intencional. Coincidentemente, estou encerrando a leitura de A Caverna nessa madrugada. Menos densa do que as duas citadas anteriormente, mesmo assim consegue transmitir uma boa dose da inquietação do autor.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Para que tudo isso?
Às vezes – ultimamente, quase sempre – fico me perguntando qual o sentido das coisas que faço. Respirar e comer, por exemplo, acho que podem ser satisfatoriamente explicados pela biologia ou algo que o valha. Mas não é a essas coisas que me re-firo. O que incomoda é não encontrar resposta igualmente lógica e racional para os sentimentos, desejos e atitudes – e isso me assusta. O que na verdade me move? Não sei e ninguém me responde.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
13 de maio
Na escola, a gente aprende a admirar todos aqueles heróis e datas nacionais. O dia da abolição da escravatura, por causa da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, é um desses acontecimentos, pontuado com destaque nos livros de história.
Então, o sujeito cresce e começa a se dar conta de que, apesar de ter libertado os escravos, a iniciativa não conseguiu inserir os negros na sociedade produtiva. Percebe também que o preconceito no Brasil não é pouco, fica com raiva e chega à conclusão que talvez a tal Lei Áurea não tenha sido tão boa assim. Andando pelo mundo, sente que a coisa realmente segue complicada: leva “atraque” da polícia de graça, é seguido por seguranças dentro do supermercado... Enfim, a liberdade é vigiada.
Ainda impactado com a porrada dessa descoberta, caminha mais um pouco e ouve falar de Palmares e Zumbi. Pensa em virar quilombola, em incendiar canaviais e enfrentar os capitães do mato modernos. A luta é dura e é todo dia. Então, durante a trégua, numa mesa de bar, escuta um amigo dizer que Zumbi e o 20 de novembro são importantes sim, mas que o 13 de maio é uma data a ser valorizada porque nela ocorreu o fim da escravidão, uma luta que vinha sendo travada por diversos grupos de negros, brancos e mestiços, durante o século XIX. Uma nova pancada na moleira, daquelas que faz desmaiar. Quando recobra os sentidos, tem que dar o braço a torcer: a Princesa Isabel e a Lei Áurea também são importantes.terça-feira, 11 de maio de 2010
Lembrando Bob Marley
Ainda lembro a primeira vez que ouvi Bob Marley. Devia ter tipo uns 16 ou 17 anos. Que sensação maluca aquele som me provocou. Eu andava numa época de ouvir muito rock – achava que era o único som capaz de expressar toda a rebeldia que eu sentia. O álbum era Kaya, que trazia o hit “Is this Love”. Um sucesso cercado por outras nove canções matadoras, um álbum perfeito para quem estava sendo apresentado ao maior ícone do reggae.
O que mais me impressionou foi o climão que o disco – sim, isso foi no tempo dos velhos elepês de vinil – todo emanava: um som místico, sem ser chato, e ao mesmo tempo alto astral. Uma música que permitia dançar e pensar ao mesmo tempo. E as baladas, perfeitas. Também foi legal ver um negro de guitarra em punho, de novo, como Hendrix e os velhos bluesman como B.B. King. Pirei mesmo e comecei a catar tudo sobre Marley – descobri o lado mais político, panfletário e engajado, muito forte no álbum Survival, mas que nunca perdia o balanço, a melodia e a poesia. Um som que abriu minha cabeça e que me acompanha até hoje. Nesse 11 de maio, quando se completam 29 anos da morte dessa grande figura da música que falou de paz, de amor, de respeito às pessoas, presto aqui o meu tributo.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Ainda sem nome
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Golpe de misericórdia
Sangra meu peito
E esvazia essa dor em meu corpo.
Que eu, sozinho, já não encontro forças
Pra enfrentar esse desatino.
Já que não sou digno
De te ter em meus braços,
Me deixa repousar onde a noite e o dia não alcançam,
Com a tua indiferença, feito lança,
Fecha os meus olhos e te despede de mim.
21/02/2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
A noite já começou
A noite já começou. A mulherada passa pra lá e pra cá, exalando perfumes enlouquecedores e exibindo um visual capaz de tirar muito pai de família do prumo. Estou na terceira garrafa d’água mineral sem gás. Bebo em largos goles, um após o outro, tentando saciar o insaciável em mim, uma sede de outros tempos ou de outras vidas, quem sabe, que até hoje eu não entendo e ainda não sei como explicar.
Eu observo cada uma das gurias que passa, me apaixono por cada uma delas diversas vezes em uma sequência absurda e indescritível. Tenho sonhos de amores loucos e sem fim que se desfazem para recomeçar logo a seguir, ao pressentir uma nova promessa de febre no semi-árido do meu peito.
Nessas horas, minha impaciência fica patente na velocidade com que dreno copos e mais copos de H2O. O meu desconforto é denunciado pelo suor que verte de todo o meu corpo e pela voracidade com que despedaço o rótulo de cada uma das garrafinhas azuis. Minhas mãos se agitam sobre a mesa, servindo mais uma vez a água insossa. Nessas horas invejo os fumantes: parecem ler os próprios pensamentos na fumaça que expelem a cada tragada, contendo a inquietação dos próprios espíritos. Não contava com aquele maldito diagnóstico de gastrite. Não bastasse me cortar o chocolate, o café, a pimenta, gorduras e frituras, o médico ainda suspendeu meu trago por três meses. Logo a cana, minha inseparável muleta noturna. Ela, que me anima o espírito durante a balada, tornando as cores mais vivas e o meu agir mais destemido e impiedoso.
A cada vez que a noite se aproxima e escuto o chamado selvagem, é nela que eu penso, na malvada da birita, meu escudo e minha arma. Será que um médico não sabe que é impossível sair assim, a seco?
A cada vez que percebo minhas mãos vazias, é como se estivesse nu no meio de toda aquela gente. Fora as vezes em que um gatilho atávico dispara e me faz procurar um copo com um trago de qualquer coisa que não vai estar lá. E todas aquelas mulheres e eu desesperadamente sozinho, indefeso diante de seus encantos? A essa altura do campeonato, algumas doses de uísque ou umas três cervejas, quem sabe as duas coisas juntas, já teriam despregado meus pés do chão e arremessado o meu corpo ao encontro de uma delas...
Mas não, nada disso acontece. Estou aqui, sóbrio e débil. Segregado em um momento que deveria ser de desbravar o inesperado. Não tenho porque prorrogar esse estrondoso massacre psicológico. São três horas da manhã, tarde demais para rasgar as recomendações médicas e recorrer às armas. Vou ao caixa, pago a minha conta e, cabisbaixo, cruzo a porta da festa. Às minhas costas, ficam o som do brandir dos copos, da música hipnótica e das gargalhadas daqueles que podem encher a cara impunemente. Eu, derrotado, tomo a rua escura rumo ao meu quarto, ao meu túmulo.
Cassino, tarde de 15/01/10.