Precisava matar o eu que emergia cada vez que bebia. Sabia muito bem o que fazer: bastava nunca mais abrir uma garrafa ou aproximar-se de qualquer gota de álcool. Uma sentença bastante adequada a um crime tão sórdido. Os dias prosseguiam enquanto arquitetava cada detalhe de seu macabro plano. Porém, o tiro saiu pela culatra. Suspeitando do atentado que era tramado contra sua existência pelo lado sóbrio de sua pessoa, o eu beberrão adiantou-se e contra-atacou, não sem demonstrar requintes de crueldade. Passou a dar o ar da graça diariamente em todos os botecos das redondezas. Mal abria os olhos, saltava sobre a rota sobriedade e impunha a sua vontade. Afogou o inimigo aos poucos, sem uma gota de piedade.