quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Golpe de misericórdia

Sangra meu peito

E esvazia essa dor em meu corpo.

Que eu, sozinho, já não encontro forças

Pra enfrentar esse desatino.

Já que não sou digno

De te ter em meus braços,

Me deixa repousar onde a noite e o dia não alcançam,

Com a tua indiferença, feito lança,

Fecha os meus olhos e te despede de mim.

21/02/2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A noite já começou

A noite já começou. A mulherada passa pra lá e pra cá, exalando perfumes enlouquecedores e exibindo um visual capaz de tirar muito pai de família do prumo. Estou na terceira garrafa d’água mineral sem gás. Bebo em largos goles, um após o outro, tentando saciar o insaciável em mim, uma sede de outros tempos ou de outras vidas, quem sabe, que até hoje eu não entendo e ainda não sei como explicar.

Eu observo cada uma das gurias que passa, me apaixono por cada uma delas diversas vezes em uma sequência absurda e indescritível. Tenho sonhos de amores loucos e sem fim que se desfazem para recomeçar logo a seguir, ao pressentir uma nova promessa de febre no semi-árido do meu peito.

Nessas horas, minha impaciência fica patente na velocidade com que dreno copos e mais copos de H2O. O meu desconforto é denunciado pelo suor que verte de todo o meu corpo e pela voracidade com que despedaço o rótulo de cada uma das garrafinhas azuis. Minhas mãos se agitam sobre a mesa, servindo mais uma vez a água insossa. Nessas horas invejo os fumantes: parecem ler os próprios pensamentos na fumaça que expelem a cada tragada, contendo a inquietação dos próprios espíritos. Não contava com aquele maldito diagnóstico de gastrite. Não bastasse me cortar o chocolate, o café, a pimenta, gorduras e frituras, o médico ainda suspendeu meu trago por três meses. Logo a cana, minha inseparável muleta noturna. Ela, que me anima o espírito durante a balada, tornando as cores mais vivas e o meu agir mais destemido e impiedoso.

A cada vez que a noite se aproxima e escuto o chamado selvagem, é nela que eu penso, na malvada da birita, meu escudo e minha arma. Será que um médico não sabe que é impossível sair assim, a seco?

A cada vez que percebo minhas mãos vazias, é como se estivesse nu no meio de toda aquela gente. Fora as vezes em que um gatilho atávico dispara e me faz procurar um copo com um trago de qualquer coisa que não vai estar lá. E todas aquelas mulheres e eu desesperadamente sozinho, indefeso diante de seus encantos? A essa altura do campeonato, algumas doses de uísque ou umas três cervejas, quem sabe as duas coisas juntas, já teriam despregado meus pés do chão e arremessado o meu corpo ao encontro de uma delas...

Mas não, nada disso acontece. Estou aqui, sóbrio e débil. Segregado em um momento que deveria ser de desbravar o inesperado. Não tenho porque prorrogar esse estrondoso massacre psicológico. São três horas da manhã, tarde demais para rasgar as recomendações médicas e recorrer às armas. Vou ao caixa, pago a minha conta e, cabisbaixo, cruzo a porta da festa. Às minhas costas, ficam o som do brandir dos copos, da música hipnótica e das gargalhadas daqueles que podem encher a cara impunemente. Eu, derrotado, tomo a rua escura rumo ao meu quarto, ao meu túmulo.

Cassino, tarde de 15/01/10.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Teu beijo

Teu beijo queima meus lábios e minha pele,
e o que bebi em tua boca desce como fogo em minhas entranhas.
Anda logo e me embriaga: não me nega essa bebida doce e amarga.