sexta-feira, 22 de maio de 2009

Pus a corda no pescoço

Pus a corda no pescoço
E pulei do cadafalso
Perdido por teus beijos
Louco pelos teus abraços
Quando ela esticou
Meus pés não tocaram o chão
Não te alcancei
Pensando que era amor, feito tolo,
Me suicidei

O vento balançava meu corpo suspenso
Tu estavas ali perto, admirando o espetáculo
Por mais que me recriminem, não quis partir morto ingrato
No último suspiro, busquei forças e cuspi meu coração aos teus pés
Finalmente, te vi sorrir, enquanto a névoa envolvia meus olhos

Lajeado – 16/01/07, 00h50min

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Lembrança de um dia cinzento

Era uma tarde nublada e eu caminhava pela rua Gonçalves Chaves. Pouco depois de cruzar a Dr. Amarante, embaixo de uma marquise, notei um grupo de crianças – não consegui contar quantas eram e nem perceber se havia meninas entre elas. Fazia frio e elas dormiam amontoadas, envoltas em caixas de papelão. Já passava das 14h e elas seguiam ali, sem dar atenção ao barulho dos carros ou perceber que eu as observava. Talvez ainda entorpecidas pelo uso de alguma droga, com certeza com fome e sujas. Talvez sonhassem com uma vida diferente, com família, casa, comida e um pouco de dignidade. Ou estivessem mergulhadas em pesadelos recheados de abusos e violência. Quem sabe apenas descansassem no escuro de si mesmas, o único lugar em que se consegue uma pequena trégua da vida. Fui tirado daquele transe pelas manifestações de piedade de um ruidoso grupo. Alguns metros adiante, um punhado de pessoas reunia-se em volta de uma pequena árvore. Comoviam-se muito e perguntavam umas às outras quem seria capaz de abandonar aquelas pequenas vidas ali. Alguns já se prontificavam a levar um dos filhotes de cachorro abandonados, amarrados à pequena árvore, para casa.