Em um trecho do livro Gomorra, o jornalista italiano Roberto Saviano descreve a forma como parte dos mafiosos italianos via suas relações com o Estado.
“Uma das declarações que mais me aturdiram sobre os mafiosos sicilianos foi a de Carmine Schiavone, arrependido do clã dos Casalesi, em uma entrevista dada em 2005. Falava da Cosa Nostra como uma organização escrava dos políticos, incapaz de raciocinar em termos de negócios, como faziam os camorristas casertanos. Para Schiavone, a máfia queria colocar-se como um Contra-Estado, e isso não era um discurso de empresários. Não existe um paradigma Estado-contra-Estado, mas somente um território em que negócios são feitos com, através e sem o Estado:
Nós vivíamos com o Estado. Para nós, o Estado devia existir e devia ser um Estado tal como é. Só que tínhamos uma filosofia diferente da dos sicilianos. Enquanto Riina vinha de um lugar isolado, de uma montanha, enquanto ele era um velho pastor de ovelhas, nós já tínhamos superado essa visão, queríamos conviver com o Estado. Se alguém no Estado se tornava um obstáculo, encontrávamos outro disposto a nos favorecer. Se era um político, não votávamos nele, se era alguém das instituições, encontrava-se um modo de dar-lhe a volta.”
“Uma das declarações que mais me aturdiram sobre os mafiosos sicilianos foi a de Carmine Schiavone, arrependido do clã dos Casalesi, em uma entrevista dada em 2005. Falava da Cosa Nostra como uma organização escrava dos políticos, incapaz de raciocinar em termos de negócios, como faziam os camorristas casertanos. Para Schiavone, a máfia queria colocar-se como um Contra-Estado, e isso não era um discurso de empresários. Não existe um paradigma Estado-contra-Estado, mas somente um território em que negócios são feitos com, através e sem o Estado:
Nós vivíamos com o Estado. Para nós, o Estado devia existir e devia ser um Estado tal como é. Só que tínhamos uma filosofia diferente da dos sicilianos. Enquanto Riina vinha de um lugar isolado, de uma montanha, enquanto ele era um velho pastor de ovelhas, nós já tínhamos superado essa visão, queríamos conviver com o Estado. Se alguém no Estado se tornava um obstáculo, encontrávamos outro disposto a nos favorecer. Se era um político, não votávamos nele, se era alguém das instituições, encontrava-se um modo de dar-lhe a volta.”
Olhando a forma como a maioria dos políticos brasileiros tem agido no cumprimento de seus mandatos e no exercício de cargos públicos, acho que ambos os grupos compartilham o mesmo ponto de vista. Assim como os mafiosos italianos, para os políticos brasileiros o Estado/Poder Público é apenas um meio para a concretização de seus negócios ou um ente que, ao menos, não deve atrapalhar os seus esquemas. Só encontrei uma pequena diferença entre a nossa realidade e a italiana. Lá, os mafiosos se utilizam dos políticos, corrompendo-os ou eliminando-os, para concretizarem seus negócios. Aqui, os nossos políticos já são a própria máfia.