quarta-feira, 15 de abril de 2009

Políticos brasileiros e a máfia italiana: uma visão em comum

Em um trecho do livro Gomorra, o jornalista italiano Roberto Saviano descreve a forma como parte dos mafiosos italianos via suas relações com o Estado.

“Uma das declarações que mais me aturdiram sobre os mafiosos sicilianos foi a de Carmine Schiavone, arrependido do clã dos Casalesi, em uma entrevista dada em 2005. Falava da Cosa Nostra como uma organização escrava dos políticos, incapaz de raciocinar em termos de negócios, como faziam os camorristas casertanos. Para Schiavone, a máfia queria colocar-se como um Contra-Estado, e isso não era um discurso de empresários. Não existe um paradigma Estado-contra-Estado, mas somente um território em que negócios são feitos com, através e sem o Estado:
Nós vivíamos com o Estado. Para nós, o Estado devia existir e devia ser um Estado tal como é. Só que tínhamos uma filosofia diferente da dos sicilianos. Enquanto Riina vinha de um lugar isolado, de uma montanha, enquanto ele era um velho pastor de ovelhas, nós já tínhamos superado essa visão, queríamos conviver com o Estado. Se alguém no Estado se tornava um obstáculo, encontrávamos outro disposto a nos favorecer. Se era um político, não votávamos nele, se era alguém das instituições, encontrava-se um modo de dar-lhe a volta.

Olhando a forma como a maioria dos políticos brasileiros tem agido no cumprimento de seus mandatos e no exercício de cargos públicos, acho que ambos os grupos compartilham o mesmo ponto de vista. Assim como os mafiosos italianos, para os políticos brasileiros o Estado/Poder Público é apenas um meio para a concretização de seus negócios ou um ente que, ao menos, não deve atrapalhar os seus esquemas. Só encontrei uma pequena diferença entre a nossa realidade e a italiana. Lá, os mafiosos se utilizam dos políticos, corrompendo-os ou eliminando-os, para concretizarem seus negócios. Aqui, os nossos políticos já são a própria máfia.

sábado, 4 de abril de 2009

O dia em que o Demo cruzou o caminho do Rock N'Roll – Parte II


“Eu fui até a encruzilhada e me ajoelhei”. Assim começa a letra de “Crossroad Blues”, onde Robert Johnson descrevia um pretenso encontro com o “Tinhoso”. Johnson é uma figura lendária do Blues. Conta-se que o cara era um guitarrista medíocre e que, depois de passar alguns meses inexplicavelmente desaparecido, retornou com uma destreza inacreditável nas seis cordas.
Ao apresentar músicas como a citada e outras - Me and the Devil Blues, Hellhound on my Trail –, todas com referência ao “Coisa Ruim”, Johnson selava a fama – infundada ou verdadeira – de que toda a sua habilidade musical era resultado de um pacto com o Capeta. O bluesman nasceu em 8 de maio de 1911, no Mississippi (EUA), e a partir de 1931 passou a viajar pelo sul do país com seu violão. Gravou somente 29 músicas (The Complete Recordings of Robert Johnson traz 41 faixas porque inclui mais de uma versão de cada música). Robert Johnson faleceu em 1938 e há diversas versões para sua morte: envenenamento por uma dose de uísque com estricnina oferecida por um marido traído ou algo parecido; ingestão de uísque de má qualidade; e baleado pelo pai de uma namorada. Apesar da curta obra, é influência de diversas feras do rock n’roll e do Blues como Elmore James, Muddy Waters, Eric Clapton e Keith Richards, só pra começar.