Ela entrou no ônibus. Usava um vestido preto, os braços e as
costas a mostra, assim como boa porção das pernas. Ah, as pernas. Com os pelos
descoloridos, prenderam os olhos dele de maneira irremediável. Da poltrona, ele
observava a majestade daquele corpo, a imponência daquela presença na fileira
de bancos ao lado. E imaginava.
As mãos cruzadas sobre o colo, com as unhas cor de rosa. Vez
que outra, puxava o vestido tentando esconder as coxas morenas. Implorava em
silêncio, com os olhos, para que ela não cobrisse o refúgio onde a sua imaginação repousava naquele
instante. Então, ela sentiu frio. Não fossem os pelinhos das pernas arrepiarem,
ele nem teria percebido que o ar condicionado do ônibus havia sido ligado.
20/04/12